terça-feira, 13 de julho de 2010

Um Vôo Aleatório


Hoje ao amanhecer o dia tudo parecia estar do mesmo jeito de como foi deixado na noite anterior. Frank acordara um pouco mais tarde do que o comum, o sol já se fazia alto e forte quando abriu suas finas pálpebras. Tomou o seu café saciando sua sede e fome de saber, como conseguiria sanar tais necessidades fisiológicas em tais condições? Sua necessidade era a de conhecimento, de saber e sempre buscara as repostas em sua introspecção noturna. Sua cabeça quase nunca parava, principalmente depois de querer ser apresentado a um velho conhecido.
A manhã passou depressa e não tardou para chegar o entardecer, notou algo curioso: Por quê não conseguia ficar bronzeado perante tanto Sol? Mas isso já não era algo com que se preocupava mais, acreditava na sua quase total ausência de melanina.
A noite veio cobrir com um manto amêno o dia quente que fizera, confortando a todos os que sofrera com o calor anterior.
Pela primeira vez Frank não cantarolou nenhuma canção e muito menos assoviou, sentiu o vento soprar para uma cidade que tinha o aroma de sua casa, era como se estivesse em sua cidade natal após andar por léguas e léguas. Assistiu várias fatos lhe remeterem boas lembranças de seus amigos, chorou por vezes...mas não derramou nenhuma lágrima se quer. Questionou-se "Onde estão todos por quem clamo? Não conseguem me ouvir daqui de cima?".
Eis então onde os holofotes debruçaram-se para assistir o monólogo que se iniciaria em instantes. Eis as perguntas que pairaram o ar e por um instante o mundo parou para ouvi-las: "Onde estão todos? Mesmo estando acima do mundo não consigo ver o motivo." Sentiu receio da possível resposta que ouviria mas a voz não saiu...então ousou por à prova seu seticismo e questionou novamente "Deveria acreditar em quem? Em alguma crença determinística e limitada? Acreditar no mundo que lhe prometeram? No mundo novo que nascia por entre as montanhas? Nas canções que ouvira?".
Sim, desta vez sentiu muito medo no que poderia ouvir, engoliu a seco sua coragem mal diferida, antes que recebesse qualquer resposta. Em outro tom, calmo e brando, uma voz respondeu: "Por quê tantas perguntas? Você realmente acredita em seus sentidos? Você tem certeza de que eles nunca o trairam?". Pela primeira vez Frank parou para pensar se tudo o que vira, escutara ou sentira era verdade, por quanto tempo haveria se enganado? Quanto tempo teria perdido?
Naquele instante o universo silenciou-se, o vento parou de soprar, o jantar parou de esfriar e até o beijo perdeu o sabor. Seria verdade?
Frank sentiu-se estranho, seu corpo formigava por completo, seu estomago embrulhara-se e seus olhos por fim serraram.
Daquele instante até o próximo suspiro...Frank sofreu um lapso nervoso do qual não se recuperou mais. Uma estrela solidária repousou seu brilho sobre sua cabeça, mas era tarde demais, Frank havia tomado a decisão: Alienar seus sentidos para nunca mais sentir. Feito isto, nunca mais ou pelo menos não gostaria mais de sentir nada.
Agora em plena conciência cruzou as pernas e observou o movimento que se reordenava abaixo de seus pés, disse adeus ao que parecia seu lar e assoviou uma canção.
Para onde foi? Ainda não sei e nem se teve mais noticias de Frank por essas bandas, naquela noite o vento soprou para todas as direções simultaneamente, só com o clarear de mais um dia é que saberemos para onde os pensamentos de Frank o levarão.


[arte por Bruno Fleming]

2 comentários:

Unknown disse...

Frank, sempre me surpreendendo com flexibilidade e serenidade. Nada complexo!? Fascinada!

Anônimo disse...

depois de ler isso, um abraço me acalmaria!
fui o frank por alguns segundos..
mais sou o frank sempre com as mesmas perguntas!